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domingo, 30 de novembro de 2008

Desenhando uma personagem.

Como se andasse por um cenário de desenho animado ela permanecia andando entre personagens bizarros do imaginário humano, ouvia seus passos, sentia sua respiração, seu coração batia como de costume, seus pêlos se eriçavam ao toque suave do vento e todo seu corpo se unia em uma perfeita sincronia que a mantinha andando mesmo em um cenário tão desconexo com a realidade. 

Olhava para os lados e nada via, além de cores, formas e movimentos, seus sentimentos se expandiam em uma esfera deveras surreal, seus pensamentos perdiam-se em lembranças e visões presentes, ela caminhava por entre a gente e já não sabia o porquê deste andar. Continuava com seus passos determinados, ouvia, via, sentia tudo, mas entender já não estava muito dentro do contexto em que se encontrava. Seus cabelos batiam em seu rosto, de forma que pareciam chicoteá-lo impiedosamente, a camiseta colorida sacudia a cada passada como se dançasse livre em seu corpo, sua calça jeans roçava em suas pernas e escorregava de sua cintura revelando curvas que deveriam esconder-se normalmente, o all star já imundo pelo uso movia-se com uma graça tão esplêndida que dava a impressão de estar apenas flutuando pelo chão, enquanto as mãos tiravam os cabelos do rosto e ela continuava a andar, com seus passos determinados e em seu rosto uma expressão pesada. 

Provavelmente não entendiam o motivo de seu ar preocupado, pois não eram preocupações naturais ou comuns as dela, preocupava-se com tudo e as pessoas não entenderiam o que seria tudo se você as questionasse. Preocupar-se com o tudo se torna cansativo quando não se sabe o que fazer com tanto, é como almejar conter os ventos que batem em uma árvore já vergada pelo tempo, como prevenir todos os apaixonados recentemente que tudo aquilo será apenas sofrimento em breve, como tentar prevê a próxima partícula a se quebrar no ar. Sufocante é a idéia de que todas as coisas acontecem ao mesmo tempo, tentar entendê-las ou prevê-las com um só olhar é impossível, pensar nelas é viciante e até mortal, você pode se perder dentro de sua cabeça se tentar pensar em tudo que acontece enquanto você caminha pela rua, focar em seu próximo passo pode parecer bobagem, mas para quem pensa tanto, focar-se em um único movimento é aflitivo, é como se deixasse milhares de fatos ocorrerem a sua volta sem cogitar vê-los. É assustador poder ver tudo isso e ter que concentrar-se, apenas, em seu próximo passo. Sua cabeça grita dizendo, quero ver, quero sentir tudo a minha volta, enquanto você simplesmente olha para seus pés que calmamente antecedem-se um ao outro. 

Quando ouvia uma voz chamando seu nome, enchia-se de alegria pois era um momento único de paz e sossego, era o momento em que ela sorria, uma breve conversa se tornava algo imensamente valioso, o momento em que seus pensamentos se voltavam para um único objetivo, tentar ser alguém agradável para aquela outra pessoa, lembrava sempre de sua avó nessas conversas, lembrava de todos os ditados antigos, e de repente aquele momento de recreio com aquela pessoa deixava de ser algo interessante e ela precisava agregar valor aquele momento, inseria mais gente a conversa e quanto mais barulho melhor, pois o objetivo era sempre distrair sua mente desejosa de sensações, abafar o barulho do mundo com uma conversa aparentemente sem fundamento, que para ela era de extrema valia, salvá-la de ter que ater-se a todos os fatos que a circundavam. Para ela era assim uma simples conversa. 

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